EVANGELHO Jo 3,13-17
— O Senhor
esteja convosco.
— Ele está
no meio de nós.
—
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a
vós, Senhor.
Naquele
tempo, disse Jesus a Nicodemos: 13“Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que
desceu do céu, o Filho do Homem. 14Do mesmo modo como Moisés levantou a
serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado,
15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna.16Pois Deus amou tanto
o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele
crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo
para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.
— Palavra da
Salvação.
COMENTÁRIO
Só
temos dois caminhos: a liberdade com Deus ou a escravidão sem Deus. A condição
de “criatura” – que é a nossa – é a condição de ser incompleto. Não somos
autônomos, não nos bastamos. Só Deus nos basta, só ele nos preenche. Recuando o
seu senhorio, ficamos desarmados diante de outros patrões que rondam nossa casa
permanentemente. Sem Deus, acabamos tiranizados pela carne ou pelos demônios.
É
uma grave ilusão o sentimento de que Deus nos prende com seus mandamentos.
Ilusão semelhante leva alguns a avançarem o sinal vermelho que lhes dá
segurança. Até os antigos, com o mito de Ícaro, já haviam entendido que o homem
não pode ir além de sua medida de criatura. A mística cristã intuiu que ninguém
é mais livre do que quem abre mão da pretensão de onipotência, abandonando-se
nas mãos de Deus.
O
homem rebelde se recusa a dobrar a cerviz (região cervical) diante da vontade
amorosa de Deus, pensando com isso manter-se livre. Ledo engano! É exatamente
pelo pescoço, o ponto mais frágil do corpo humano, que os vencidos na guerra
são escravizados com coleiras de ferro.
No
Antigo Testamento, o Senhor se refere a Israel como um “povo de dura cerviz”,
isto é, renitente e empacado, (cf. Dt 31,27; Ne 9,29). Antes de ser lapidado, o
primeiro mártir cristão, Estêvão, apontou a obstinação de quem se recusa a
acolher a Palavra de Deus: “Homens de dura cerviz e de corações e ouvidos
incircunciso! Vós sempre resistis ao Espírito Santo! Como procederam os vossos
pais, assim procedeis vós também!” (At 7,51)
Conscientemente
ou não, é como se alguém preferisse o estado de escravidão, ao recusar a
oportunidade de uma vida livre em Deus, abrindo mão de seus vícios, degradações
morais e intelectuais, e de uma vida centrada em si mesmo.
Deus
é nosso único Libertador. É uma pena que os excessos cometidos por alguns
teólogos da libertação tenham posto sob suspeita uma palavra tão rica:
Libertação! Lamento igualmente que se tenha perdido o sentido da palavra
Redentor, o adjetivo que acompanha o Cristo no alto das montanhas.
Em
sua etimologia, “redentor” [do latim re + emere, isto é, “comprar de novo”] é
aquele que vai ao mercado de escravos, paga seu resgate e quebra os grilhões
que os prendiam. Cristo Redentor é o Cristo Libertador. São Paulo recorda-nos
esse resgate e seu alto preço: “Ignorais que não pertenceis a vós mesmos? De
fato, fostes comprados, e por preço muito alto!” (1Cor 6,20) Só faltou
acrescentar: vocês custaram o sangue de Cristo!
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